Bugio: a vítima e não o vilão
Publicação:

A chefe do Setor de Fauna da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema) médica veterinária Thais Michel lamenta que apesar da ampla divulgação de que os bugios não transmitem febre amarela, existem novos relatos de situações de maus-tratos à bugios-ruivos na zona sul de Porto Alegre. Ela acredita que o receio da população provavelmente deva-se aos casos recentes de febre amarela confirmados na região Sudeste do Brasil. Destaca, porém, que o último caso confirmado da doença no Rio Grande do Sul foi em 2009, e que seu monitoramento é contínuo, principalmente nas épocas mais quentes.
A técnica explica ainda que a vacinação de pessoas, o cuidado de quem vem de fora do Estado com a confirmação de febre amarela e o controle da proliferação dos mosquitos são as ações eficazes para evitar a doença no Rio Grande do Sul. “Agressões aos primatas silvestres, além de crime-ambiental, pode deixar o ambiente mais inseguro, uma vez que os primatas ajudam no controle da doença por alertarem para a presença dela. Eles são nossos parceiros na luta contra a doença. São vítimas como nós”, alerta a médica veterinária.
Os bugios são os primatas mais facilmente encontrados no Rio Grande do Sul, especialmente em duas espécies: o bugio-ruivo e o bugio-preto. Ambas estão ameaçadas de extinção e protegidas por lei. Exemplares do bugio-ruivo são encontrados em Porto Alegre em grupos familiares nos remanescentes florestais da zona sul da capital, assim como em vários outros locais do Estado.
Conforme a especialista em primatologia, bióloga Márcia Jardim, da Fundação Zoobotânica, os bugios vivem em grupos compostos, em geral, por um macho adulto, duas a três fêmeas e seus filhotes. Habitam áreas de matas na encosta de morros e na beira de rios. Da mata retiram seus alimentos, que são basicamente folhas, frutos e flores. Ao se alimentarem, contribuem espalhando sementes de várias espécies de plantas, auxiliando assim a manutenção da diversidade da floresta.
Os bugios costumam defender seu território através de uma vocalização característica, que é conhecida como o “ronco do bugio”. Por viverem nas copas das árvores juntamente com os mosquitos transmissores do vírus da febre amarela, adquirem a doença. São muito sensíveis ao vírus e ao morrerem indicam que a doença está presente no ambiente. Em função disso são considerados “sentinelas”, pois alertam quando a doença está ocorrendo em determinada localidade e permite que vidas humanas sejam salvas.
A febre amarela é uma doença infecciosa grave, causada por vírus e transmitida por mosquitos do gênero Haemagogus ou Sabethes em seu ciclo silvestre. A transmissão pelo mosquito do gênero Aedes (o mesmo da dengue) não ocorre desde 1942. Ao ser picada pelo mosquito contaminado, a pessoa não vacinada ou o primata silvestre contrai a doença e pode se tornar uma fonte de infecção, caso haja picada do mosquito vetor.